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CERVEJARIA ASTRA E O BANHO DE PISCINA COM ÁGUA DO PAPICU

Eu era menino de tudo. Papai Luiz (Luiz Gonzaga do Carmo Paula, 1923 - 2007), engenheiro, chegou e nos avisou: “Vamos construir aqui em Fortaleza um cervejaria!” Algo grandioso e um tremendo desafio para o meu pai que, no seu currículo, até então, entendia de locomotivas e estradas de ferro - Dieselização da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro -, moinhos de trigo - Moinho de Trigo Fortaleza e Outros -, Frigorífico Industrial de Fortaleza, Jornal O Povo, Ginásios Júlia Jorge e Paulo Sarasate, Unifor - Universidade de Fortaleza, Petrolusa - Indústria Petroquímica, Camisas Saronord e as usinas do Macuripe e Auxiliar Diesel-Elétrica de Fortaleza. Papai, na época, trabalhava para o Grupo J. Macedo S.A., do empresário Macêdo (José Dias de Macêdo, 1919 - 2018), dono de um dos maiores grupos empresárias do Nordeste brasileiro, então, dono do empreendimento Astra. A pedra fundamental da Cervejaria Astra, foi lançada em 1965, no endereço da Rua Lauro Nogueira, 1355, bairro Papicu, em Fortaleza, CE. Em 1970, depois de 5 anos, a fábrica, finalmente, foi inaugurada. Teve festa no clube Náutico Atlético Cearense e até banho de piscina, cheia até a boca, com cerveja Astra. Lembro-me que papai Luiz passou mal, teve alergia no corpo todo e quase não conseguiu ir à festa de inauguração. A marca Astra, ficou conhecida pelo slogan: “Astra, cerveja do Ceará” e em pouco tempo caiu no agrado do público. Ganhou até letra e música do compositor cearense Francisco José Abreu e, da noite para o dia, virou sucesso de vendas. Papai Luiz dizia, na época: “O segredo de uma boa cerveja é a água!” Foi o que aprendi, além do conhecimento de beber cerveja. A Astra começou a ser fabricada - para testes - alguns meses antes do seu lançamento oficial. Éramos provadores diários da cerveja, e, semanalmente, recebíamos da fábrica, em casa, caixas e mais caixas, de Astra. Bebíamos todas! No ano seguinte - 1971 - o controle acionário da empresa foi comprado pelo grupo Miranda Corrêa, que passou a controlar as cervejarias: Astra, em Fortaleza e Miranda Corrêa, em Manaus, AM. Em 1999, a empresa foi vendida para o grupo Ambev - fusão das empresas Antarctica e Brahma -, e ganhou rótulo da Brahma, quando, então, teve toda a sua produção transferida para uma nova fábrica da Ambev, em Aquiraz, CE. Em 16 de maio de 2010, a antiga fábrica da cervejaria Astra, foi ao chão. Para implodir o prédio, foram necessários 250 kg de dinamite. A população - eufórica - pôde assistir a implosão, de longe, cujo impacto pôde ser sentido bem longe dali. Depois da implosão o que ficou de pé foi, apenas, a torre da caixa d’água. “Deve ter sido sacanagem do Gonzaga” palavras do meu tio Mário Capelo, ao telefone, contando-me, aos berros, de como havia sido a implosão. O terreno foi vendido para o empresário Paes Mendonça (João Carlos Paes Mendonça), controlador de um conglomerado de empresas, a JCPM, entre as quais a TV, a Rádio e o Jornal do Comercio do Recife, além de 11 shoppings, supermercados e hipermercados Bompreço, espalhados por grandes cidades do Nordeste brasileiro. No local, foi construído o Shopping Riomar Fortaleza, inaugurado em 29 de outubro de 2014. É o maior shopping do Ceará, com 93.000 m² e o 8º maior do Brasil. Papai Luiz Gonzaga tinha toque. Não vivia sem água. Lavava as mãos de hora e hora, principalmente depois de cumprimentar uma pessoa. Construiu açudes, poços artesianos, cisternas e caixas d’água. Todas reforçadas e a prova de vazamentos e rachaduras. Isso, talvez, explique, na implosão da cervejaria Astra, apenas, a torre da caixa d’água, ter ficado em pé, depois de 250 kg de dinamite.  

João Scortecci