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OLGA SAVARY E O “BILA" QUE BRILHA E ROLA

Eu era o “Bila”, para a poeta, contista, romancista e tradutora Olga Savary (1933 – 2020). Bila, no Ceará, é o mesmo que bola de gude. Dizia, sempre: “Você brilha e rola!”. Olga Savary nasceu em Belém do Pará, filha de engenheiro eletricista russo e mãe paraense, de sangue indígena. Morou na cidade de Fortaleza/CE, de 1936 até 1942. Lá – brincando com os meninos de rua – conheceu a palavra “bila”. Quando leu a primeira versão do meu livro Na linha do cerol - Reminiscências poéticas, mudou o meu nome, de vez. Conhecemo-nos no final dos anos 1970, no estúdio do editor Massao Ohno, por meio da atriz e roteirista pernambucana Aurora Duarte, que ocupava um espaço nos fundos da editora, na Rua Conselheiro Ramalho, na Bela Vista, na capital paulista. A amizade cresceu, quando Olga Savary morou alguns meses – de favor – na casa do escritor Fábio Porchat. “Você não vai embora?” “Só quando me expulsarem!” E foi ficando e ficou. Olga traduziu mais de 40 obras de mestres da literatura hispano-americana, como Borges, Cortázar, Carlos Fuentes, Lorca, Neruda, Octavio Paz, Jorge Semprún e Mário Vargas Llosa, e também os mestres japoneses do haicai, Bashô, Buson e Issa. A belíssima Olga – na juventude despertava paixões –também ficou conhecida por ter sido a primeira mulher brasileira a lançar um livro de poemas eróticos e a segunda a publicar haicais, no Brasil. Recebeu prêmios nacionais de literatura, entre eles: o Prêmio Jabuti – Autor Revelação (1971), da Câmara Brasileira do Livro, pelo livro Espelho Provisório; o Prêmio de Poesia da Associação Paulista de Críticos de Arte (1977), pelo livro Sumidouro; e o Prêmio Artur de Sales de Poesia, da Academia de Letras da Bahia (1987), pelo livro Berço Esplêndido. Numa tarde qualquer – na Praça Benedito Calixto, no bairro paulistano de Pinheiros –, falou-me de Drummond e do tesão maluco que o poeta sentia por ela. “Rolou ou não rolou?”, perguntei algumas vezes. Olga sorria e brilhava, com olhos de amor. Um dia listou os nomes de todos os seus amores. E ainda deu nota de zero até 10, para alguns. Olga Savary faleceu na cidade de Teresópolis, Rio de Janeiro, aos 86 anos de idade. Dizia, sempre: “No Brasil, poeta morre de fome. Mas sou apaixonada por este malandro chamado literatura e não viveria sem ele.” “E o Drummond?” “Não fala dele que as minhas pernas até hoje tremem.” Risos. Muitos risos.


João Scortecci