“Paliativo” é a palavra da moda. Nos últimos dias, duas pessoas - assuntos e lugares diferentes - pronunciaram-na num papo-cabeça. Notei que os dois amigos a usaram com sapiência. Encontrei-a, também, em textos da Internet e num artigo sobre economia circular, em um jornal paulistano de grande circulação. “Paliativo” significa: “que ou o que tem a qualidade de acalmar, de abrandar temporariamente um mal” ou “que ou que serve para atenuar um mal ou protelar uma crise”. Fico com a segunda acepção, que, acho, diz mais. Eu diria: definição mais oportuna! Outro dia – não faz muito tempo – “resiliência” era a bola da vez. Uma febre! “Resiliência” significa “capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas”. Lembro-me de que, na época, vivíamos “flatulências” por dias melhores. Nada mudou, creio. Adaptar-se e superar obstáculos! Agora, no auge dos “paliativos”, o engodo que vive o país, nos enforca com fio de prata. Tentei – inutilmente, creio – juntá-las, estrategicamente, na linha do tempo: “paliativo” e “resiliência”. Algo do tipo: “elo perdido” ou “em algum lugar do passado”. Conclusão, do imbróglio: elas não “se conversam”! Estamos – no pior da hora – por atenuar o mal e tentar protelar a crise das almas. As palavras e expressões – da moda – entram e saem da cabeça das pessoas na velocidade da desrazão. E do tempo, claro. A lista de palavras da moda é grande: “relativo”, “evidentemente”, “óbvio”, “com certeza”, “imexível”, “feedback”, “sinergia”, “networking”, “cancelamento”, “agregar valor”, “se conversar”, "cashback", "empoderamento", “resiliência”... Devo ter esquecido uma penca delas. Perdão! A ideia não era listá-las. Era, apenas, estampar – ilustrar, talvez – o instante paliativo do hoje, do éter, do formol, das fraquezas sórdidas da alma.
João Scortecci
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