Amanhã, dia 22, chineses e outros países do Leste Asiático comemoram a chegada do ano de 4721, o ano do coelho, símbolo da paz, do intelecto e da cautela. Minha avó paterna, Sarah do Carmo, dizia sempre: “Cautela e canja de galinha, não fazem mal a ninguém”. Algo assim. Em culturas pagãs, o coelho é símbolo da fertilidade, da abundância, da inocência, da astúcia e da inteligência. Tem-se como um símbolo de Ostara, deusa germânica, o primeiro dia da primavera, quando – oportunamente – os coelhos costumam sair das tocas e mostrar a cara. No Cristianismo, o coelho era visto como símbolo de castidade, devido à crença de que conseguiam reproduzir-se sem perder a virgindade. A Páscoa, originalmente, era o período em que se celebrava a Lua e, somente mais tarde, foi incorporada à liturgia cristã e à imagem da ressurreição de Cristo. Em alguns contos de fadas, o coelho aparece como a figura do trapaceiro, usando sua astúcia para vencer os inimigos. Em muitas culturas, esse animal está associado à Lua – dorme de dia e cabriola à noite. No horóscopo chinês, o coelho é um animal Yin, representando a escuridão, o princípio passivo e noturno, sendo considerado artista, atencioso e inteligente. Na mitologia egípcia, está associado à divindade Terra-Mãe, das águas fecundas e regeneradoras, da renovação perpétua da vida. Osíris, deus da vegetação e do além, foi retratado com cabeça de coelho, representando a renovação da vida. Para os astecas – povo pré-colombiano que habitava a Península de Yucatán –, os coelhos também estão presentes na Lua e no calendário. Os "anos-coelho" são governados por Vênus, a irmã mais velha do Sol, que cometeu adultério com sua cunhada Lua, chamada "Thot", no cio de uma noite de lua cheia. Para os maias – povo pré-colombiano que habitava a região da Mesoamérica –, o coelho representava um herói, uma vez que a deusa-lua foi salva por um coelho, simbolizando a renovação cíclica da vida. O pé de coelho – utilizado como amuleto – é reconhecido em toda a cultura americana como um símbolo de boa sorte, e sua origem advém da tradição folclórica afro-americana. O ano lunar – a título de curiosidade – tem cerca de 354 dias, que é o tempo necessário para que a Lua atravesse 12 ciclos completos – de 29 ou 30 dias. O ano lunar não está em sincronia com as estações do ano: verão, inverno, outono e primavera. Isso, até hoje, costuma causar muita confusão na cabeça das pessoas. O que marca o Ano Novo chinês é a primeira lua nova após o solstício de inverno. A data do Ano Novo chinês é móvel, não acontece sempre depois de um ciclo fixo de dias. Para que a Lua volte a uma fase – por exemplo, de uma para outra lua cheia –, passam-se 27,55 dias. O número de repetições de fases durante um ano não é exatamente 12, mas 12,37. Assim, de tempos em tempos, os calendários lunares são ajustados com acréscimo de uma espécie de “mês bissexto”, o que também é feito no calendário gregoriano – criado em 1582 na Europa e utilizado na maioria dos países, inclusive o Brasil – com a adição de um dia no mês de fevereiro, caracterizando o "ano bissexto". Os anos chineses são dedicados a animais: rato, boi, tigre, coelho, dragão, serpente, cavalo, carneiro, macaco, galo, cão e porco. Essa relação com os animais se origina – é o que dizem – do budismo. Na mitologia dessa religião, ao decidir como seria o calendário, Buda convocou uma reunião com todos os bichos, mas somente 12 apareceram. Aqui com os meus ossos, meditando com a fábula de Esopo, “O Coelho e a Tartaruga”: a reunião provavelmente aconteceu na calada da noite, em surdina, o que explica, talvez, a presença cabriolada do coelho. Moral da história, no ano da graça de 4721: “Devagar se vai ao longe” e “Quem muito quer nada tem”. Algo assim.
21.01.2023
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