“Tudo vale a pena, se a alma não é pequena!” O poeta português Fernando Pessoa (Fernando Antônio Nogueira Pessoa, 1888-1935) foi educado na África do Sul, numa escola católica irlandesa. Dominava o idioma inglês e foi nele que escreveu o seu primeiro poema. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa e apenas uma em língua portuguesa: “Mensagem” (44 poemas, em 1934). Como poeta, escreveu sob diversas personalidades (heterônimos): Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e outros. Traduziu do inglês para o português Shakespeare e Edgar Allan Poe (o imortal poema: “O Corvo”). Um de seus mais famosos poemas é “Mar Português”: “Ó mar salgado, quanto do teu sal, / São lágrimas de Portugal, / Por te cruzarmos, quantas mães choraram,/ Quantos filhos em vão rezaram!/ Quantas noivas ficaram por casar, /Para que fosses nosso, ó mar! / Valeu a pena? Tudo vale a pena, / Se a alma não é pequena. / Quem quer passar além do Bojador, / Tem que passar além da dor. / Deus ao mar o perigo e o abismo deu,/ Mas nele é que espelhou o céu.” E "Viajar! Perder Países" é um dos seus poemas mais belos. Quem o lê viaja: o resto é só terra e céu.
VIAJAR! PERDER PAÍSES!
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
11.06.2022