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CLARO ENIGMA: DIAULAS RIEDEL, RICARDO RAMOS, JOSÉ PAULO PAES

Conheci o poeta, tradutor, crítico literário e químico José Paulo Paes (1926 – 1998), no final dos anos 1970, na sede da União Brasileira de Escritores (UBE), na cidade de São Paulo, quando ele ainda era editor do selo Cultrix, do Grupo Editorial Pensamento, fundado pelo português Antônio Olívio Rodrigues, no ano de 1907, e, na época, gerido pelo seu genro, o escritor, editor e gráfico Diaulas Riedel, pai do amigo e também editor Ricardo Riedel. Diaulas foi presidente (1957 – 1959) e um dos fundadores da Câmara Brasileira do Livro (CBL), com Ênio Silveira e Octales Marcondes Ferreira, e publicou o Almanaque do Pensamento, febre editorial dos anos 1970. Diaulas Riedel faleceu em 1997, aos 76 anos de idade, e seu filho, Ricardo Riedel, assumiu o Grupo Editorial Pensamento. José Paulo Paes passou a dirigir o selo Cultrix no ano de 1961 e marcou época. Na companhia do professor Massaud Moisés (1928 – 2018), foi organizador do Pequeno dicionário de literatura brasileira, publicado em 1967. Em 1982, José Paulo Paes aposentou-se como editor, dando início ao trabalho de tradução. Verteu para o português obras de Charles Dickens, Joseph Conrad, Pietro Aretino, Konstantínos Kaváfis, Lawrence Sterne, W. H. Auden, William Carlos Williams, J. K. Huysmans, Paul Éluard, Friedrich Hölderlin, Paladas de Alexandria, Edward Lear, Rainer M. Rilke, Giórgos Seféris, Lewis Carroll, Ovídio, Níkos Kazantzákis, entre outros tantos. Aproximamo-nos de vez, depois de 1989, quando José Paulo Paes lançou, pela coleção Claro Enigma – organizada pelo jornalista e professor Augusto Massi, selo da Livraria e Editora Duas Cidades – o livro A poesia está morta, mas eu juro que não fui eu, título extraído de versos de seu poema "Acima de qualquer suspeita". Em 1990, José Paulo Paes, adoeceu. Teve a perna esquerda amputada. Em dezembro de 1991, ainda quando a Scortecci Editora funcionava na Galeria Pinheiros, na Rua Teodoro Sampaio, 1704, loja 13, visitou-me, amparado pelo escritor e publicitário Ricardo Ramos, que, desde então, o acompanhava, sempre. Ricardo Ramos, ao pé do meu ouvido, sussurrou: “Temos de ajudá-lo.” Ricardo Ramos faleceu de câncer no fígado três meses depois, no dia 21 de março de 1992. José Paulo Paes faleceu oito anos depois, em 9 de outubro de 1998, em tempo para publicar, no livro Prosas seguidas de odes mínimas – no qual reflete sobre o momento difícil de sua vida – o poema "Ode à minha perna esquerda": “(1) Pernas/para que vos quero?/Se já não tenho/por que dançar,/Se já não pretendo ir a parte alguma./Pernas?” (...) (7) Longe/do corpo/terás/doravante/de caminhar sozinha/até o dia do Juízo./Não há/pressa/nem o que temer:/haveremos/de oportunamente/te alcançar.” Ricardo Ramos e José Paulo Paes foram pessoas queridas e até hoje sinto falta deles e de tudo que vivemos juntos, no universo mágico dos livros.

João Scortecci