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MAMÃE NILCE SCORTECCI E A “BIBLIOTECA DAS MOÇAS”

“Biblioteca das Moças” foi o nome de uma coleção de romances especializada em literatura para jovens mulheres, publicada entre 1920 e 1960, pela Companhia Editora Nacional, fundada por Monteiro Lobato (1882 - 1948) e Octalles Marcondes Ferreira (1901 - 1973), e que, em 1980, passou a fazer parte do grupo IBEP - Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas, do empresário Jorge Yunes. A coleção era composta por cerca de 180 volumes, com romances de vários autores, a grande maioria assinados por M. Delly, pseudônimo do casal de irmãos franceses Frédéric Henri Petitjean de la Rosière (1870 – 1949) e Jeanne Marie Henriette Petitjean de la Rosière ( 1875 – 1947). As narrativas geralmente eram ambientadas na França e tinham enredos com estrutura bem definida: o herói nobre e rico e a heroína plebeia e pobre, perfazendo uma trama complexa que culminava com o casamento feliz, como nos contos de fada. O casamento era, então, apresentado como a redenção da mulher. Por volta de 1920, as jovens começaram a frequentar as livrarias, escolhendo e comprando os próprios livros, e a “Biblioteca das Moças” foi organizada em função dessa alternativa, destinada ao público feminino da época. Em 1930, a Companhia Editora Nacional chegou a publicar mais de 900 mil exemplares; em 1940, esse número chegou a 1,4 milhão; e, em 1950, o número total de publicações duplicou em relação à década anterior, alcançando mais de 2,9 milhões de exemplares publicados. Mamãe Nilce Scortecci (1927 - 2003), foi uma leitora voraz de livros dessa coleção. Lembro-me de ter visto – isso nos anos 1960 – alguns exemplares perdidos na casa dos meus avós maternos, na cidade de São Carlos, interior de São Paulo e em algumas fotos, na fazenda Nilcevia, em Dois Córregos, também no interior de São Paulo. Na adolescência, mamãe Nilce varava noites, à luz de velas, escondida de seus pais, nos seus melhores sonhos de mulher. Nilce foi uma leitora voraz a vida toda. Já casada e com filhos, morando em Fortaleza, capital do Ceará, montou, com o meu pai Luiz, uma imensa biblioteca, basicamente formada de coleções, enciclopédias, dicionários e clássicos da literatura universal. No ano 1969, ganhou de presente duas coleções de livros: Enciclopédia Delta-Larousse (Editora Delta, 12 volume) e a Coleção Prêmio Nobel de Literatura (Editora Delta, 60 volumes). Até então, reinavam: a coleção Memórias de Carlos Lacerda, a enciclopédia Tesouro da Juventude, obras completas de Monteiro Lobato e as obras completas de Stefan Zweig. Mamãe Nilce praticamente mudou-se pra lá. É dessa época que - já com os filhos crescidos e morando em São Paulo - prestou vestibular para a Faculdade de Direito, na Federal do Ceará. Em 1982, mudou-se para São Paulo, Capital. Trabalhou na Scortecci Editora, como advogada e depois como revisora de livros. Publicou três livros de poesias: Sentimentos Idos e Vividos (1988), Todas as Palavras (1992) e Reinício (1995). Em 2021, a Scortecci Editora - in memoriam - publicou a obra "Todas as Palavras", antologia dos três títulos. Nilce Scortecci faleceu em 2003, aos 76 anos de idade. Lendo a biografia do romancista búlgaro, Prêmio Nobel de Literatura de 1981, Elias Canetti (1905 - 1994), localizei na Internet, foto de livros da Coleção Prêmio Nobel de Literatura, que ilustra o post de hoje.

João Scortecci