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LENDO MARCOS REY, PALMA DONATO, MÁRIO DE ANDRADE E TROFÉU JUCA PATO

Conheci o escritor e roteirista Marcos Rey (Edmundo Donato, 1925-1999) nos anos 1980. Ficamos amigos e, sempre que possível, nos encontrávamos nas noites literárias da “Pauliceia Desvairada”. Era de um bom humor invejável. Estava sempre sorrindo! Por um longo tempo frequentamos a sede da UBE - União Brasileira de Escritores, na Rua 24 de Maio, 250, na capital paulista, e trabalhamos juntos na comissão do Prêmio Juca Pato - Intelectual do Ano, criado em 1962, por iniciativa de Marcos Rey e realizado pela UBE. O premiado recebe o troféu Juca Pato, que é a réplica do personagem criado pelo jornalista Lélis Vieira (1880-1949) e imortalizado pelo ilustrador e chargista Belmonte (Benedito Carneiro Bastos Barreto, 1896-1947). Não é um prêmio literário, mas uma láurea conferida à personalidade que, havendo publicado livro de repercussão nacional no ano anterior, tenha se destacado em qualquer área do conhecimento e contribuído para o desenvolvimento e prestígio do País, na defesa dos valores democráticos e republicanos. Em 1966, depois de dois anos de interrupção – entre 1993 e 1994, devido ao despejo da entidade –, a premiação foi retomada, e Marcos Rey foi indicado para receber o troféu Juca Pato. Eu, João Batista Sayeg, Marigê Marchini, Caio Porfírio Carneiro e outros, abrimos a lista de indicação, que contou com as assinaturas de trinta sócios da entidade. Naquele ano não houve concorrentes, e Marcos Rey foi, então, aclamado vencedor, merecidamente. Ele morreu três anos depois, no dia 1º. de abril de 1999, aos 74 anos de idade. Mais recentemente, soube que Palma (Linda Palma Bevilacqua Donato), viúva de Marcos Rey, faleceu aos 90 anos de idade. Ela era o anjo da guarda do escritor. Estavam sempre juntos. Inteligente e de um coração maravilhoso. Gostava de livros e era uma leitora voraz. Nos anos 2000, depois da morte de Marcos Rey, ela me ligou, perguntando sobre publicação de livro. Estava escrevendo suas memórias. “Traga que eu publico”, respondi. “Não está pronto. Estou colocando a vida no papel”, justificou-se. Meses depois, fiquei sabendo que sofreu um AVC. O tempo passou. Não sei se concluiu ou não suas memórias. Marcos Rey amava São Paulo. Antes de morrer, deixou dois pedidos inegociáveis: ser cremado e que suas cinzas fossem espalhadas em um lugar onde houvesse "pedra e concreto". Marcos Rey foi então cremado e suas cinzas foram jogadas de um helicóptero, que sobrevoou a cidade de São Paulo, na Sua, Nossa, de Mário de Andrade e de muitos, “Pauliceia Desvairada”.

01.04.2022