O químico e físico John Dalton (1766-1844) nasceu em Eaglesfield, uma pequena cidade na Escócia. Não o conhecia – confesso – e nunca tinha ouvido falar sobre sua pessoa, inventos e descobertas. Cheguei até John Dalton lendo sobre “discromatopsia”, defeito na visão de algumas cores e incapacidade de percebê-las, no todo ou em parte. É o meu caso, com as cores escuras: azul, cinza, verde, roxo e marrom. Vez por outra, essas cores desaparecem para mim. Quase sempre acordo zoado, e o processo costuma durar de três a quatro horas. Acontece também – às vezes – no final do dia, na hora do pôr do sol, quando tudo fica me parecendo um imenso painel acinzentado. Impossível dirigir, ler e escrever. A ciência diz que é um defeito no cromossomo X, responsável pela guarda das razões hereditárias e das mutações da natureza. Das 3.200 doenças hereditárias identificadas até hoje, 307 podem ser atribuídas à ocorrência de mutações ou falhas no cromossomo X, as quais interrompem a produção de algumas proteínas essenciais para o bom funcionamento do organismo. Passei alguns vexames quando criança – sapatos, roupas, meias, pinturas, plantas e frutas – e só descobri que existia algo de errado, no ano de 1976, no Serviço Militar obrigatório. A cor verde-oliva dos uniformes militares parecia cáqui, igual à do uniforme dos escoteiros. Mesmo assim, tornei-me motorista e servi no BG (Parque D. Pedro II) e no QG (Ibirapuera). É engraçado o fenômeno do reencontro com as cores da luz: “alguém” liga o botão no meu cérebro, e eu – do nada – começo a enxergar colorido. Os daltônicos não enxergam todos do mesmo jeito. Há três tipos básicos de daltonismo – que também variam na intensidade. São eles: pronatomalia, deuteranomalia e tritanomalia. Eu sofro de tritanomalia. É o que dizem. John Dalton também sofria de daltonismo, como passou a ser denominado o problema de visão, depois que esse cientista publicou, em 1794, um estudo revelando que tinha dificuldade para distinguir a cor verde da vermelha. Seus olhos – depois de morto – foram removidos para fins de estudo. Além de Dalton, alguns daltônicos famosos são: Paul Newman, Bill Clinton, Mark Zuckerberg, Keanu Reeves e o Príncipe William. Aqui com os meus olhos tritanomalíados: poupem apenas e tão somente o coração da poesia!
