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EU SOU ANTIGO: DO TEMPO DO PESTAPE E DA COLA DE BENZINA

Abri oficialmente a Scortecci Editora no ano de 1982. Já trabalhava com edição e impressão de livros, desde 1978. Computadores, nem pensar. O primeiro PC da empresa chegou em 1992, e a Internet, discada e barulhenta, somente em 1998. Costumo dizer que sou antigo: do tempo do pestape, da cola de benzina e da IBM Composer. A partir dos anos 1990, a Scortecci aderiu às novas tecnologias - principalmente na parte da impressão gráfica. Com a lei nº 11.788/2008, Lei do “estudante estagiário”, o quadro de colaboradores cresceu e novos setores foram criados na empresa: os departamentos de Marketing, de Arte e Criação, de Comunicação e, também, a nossa primeira loja na Web, a Livraria Asabeça, em dezembro de 1999. O time foi montado com estudantes estagiários - doze no total - e a Internet discada, a grande vedete da época. Trabalhar num PC 286 e conectado era o máximo. Privilégio para poucos, principalmente estagiários. É dessa época o dia que, de volta de uma viagem a Piracicaba, interior do estado de São Paulo, para o lançamento de uma antologia poética de novos escritores, encontrei a estagiária Maria Luiza, do Marketing, chorando e arrancando os cabelos. Estava transtornada e - na verdade - já enlouquecida. “Maria Luiza, o que aconteceu?” Ela, aos prantos, respondeu: “Sr. Scortecci, estou perdida, desconectada do mundo. Não consigo falar com o meu cliente. A Internet caiu, e agora não sei o que fazer!” “Calma! Calma! Deixa ver a ficha de atendimento do cliente.” Ela me entregou. A ficha estava completa, letra bem feita, redondinha, legível, melhor impossível. Os campos reservados para os números de telefone - comercial e residencial - estavam preenchidos. Melhor impossível. “Maria Luiza, quantos anos você tem?” “Tenho 18'', respondeu. “Você sabe o que é um telefone?” “Sei. Claro. Por quê?”. Aborreceu-se. “Você notou que tem um aparelho na sua mesa de trabalho?” “Eu vi. É para usar?”. “Claro! É pra isto que eles servem: para falar com as pessoas! Que tal você ligar para o cliente?” Foi o que ela fez. Naquele mesmo dia, no final da tarde, reuni todos os doze estudantes estagiários da Scortecci, para contar-lhes como trabalhávamos - e bem - antes das invenções dos computadores, da Web, dos aparelhos de fax, das impressoras, dos scanners, da banda larga, do Wi-Fi, das copiadoras e, mais recentemente, dos aplicativos, do Dropbox e outros, do ZOOM e muitos outros, dos aparelhos celulares, dos smartphones, das redes sociais, do WhatsApp e outros e mais outros... Tudo mudou desde então e continua mudando - na raiz do pensamento - e nós, escritores, editores, gráficos e livreiros - e tantos - continuamos “cometendo” livros e mais livros, desde sempre.

19.11.2021