Conheci o ucraniano Leon Feffer (1902-1999), fundador do Grupo Suzano Papéis, no ano de 1996, quando da edição e impressão, para a associação “A Hebraica”, da antologia do I Concurso Literário Consulesa Antonietta Feffer, em homenagem a sua esposa, então recentemente falecida. Leon Feffer dedicou-se ao trabalho comunitário em instituições como a Casa de Cultura de Israel, a Federação Israelita do Estado de São Paulo, o Hospital Albert Einstein e o Colégio Renascença. Foi um dos fundadores de “A Hebraica” e cônsul de Israel no Brasil. Empresário respeitadíssimo e bom de conta “de cabeça”. Para muitos, um adorado “pão-duro”. Veio para o Brasil em 1920, com 18 anos de idade, com a mãe, um irmão e duas irmãs. Seu pai já estava no País desde 1910. Durante os anos de 1920 e 1930, fundou, na capital paulista, a empresa “Leon Feffer”, voltada ao comércio de papéis, uma tipografia e uma pequena fábrica de envelopes. Morava na Rua Bresser, no bairro do Brás, e usava o porão da casa para armazenar papéis. Para visitar os clientes, usava o bonde. Em 1941, inaugurou sua primeira fábrica de papel, no bairro do Ipiranga, também na cidade de São Paulo. Em cinco décadas construiu um império. Foi Leon Feffer quem me ensinou a calcular a quantidade de papel para impressão de livros. Tudo aconteceu mais ou menos assim: diagramamos a obra, definimos a tiragem e solicitamos por fax, para a Suzano Papéis - patrocinadora da obra literária -, oito resmas, com 500 folhas cada, no formato 87 x 114 cm, para impressão da antologia. Trinta minutos depois, não mais do que isso, o telefone tocou. Atendi, de pronto. Era o Sr. Leon Feffer. O coração disparou. “Em que posso lhe atender, Sr. Leon?” “Meu jovem, sei que estou conversando com um editor respeitado, inteligente, de prestígio no mercado de livros.” “Obrigado”, respondi. “Posso lhe fazer uma pergunta?” Gelei. “Claro, Sr. Leon. Faça, por favor.” “Onde o jovem editor aprendeu a calcular a quantidade de papel para a impressão de um livro?” Silêncio. Refiz os cálculos - na velocidade da luz - conferi o pedido enviado por fax e respondi. “Sr. Leon, o meu cálculo está correto.” “Não está. Não está. Não está!” Repetiu três vezes. “Onde eu errei, Sr. Leon?” Ele então me ordenou, de pronto: “Pegue papel e lápis e vamos calcular juntos”. E assim foi. Na ponta do lápis, chegamos a sete resmas e mais 150 folhas. “Certo?” “Certo”, respondi. Ele então me perguntou: “Qual então a razão do seu pedido de oito resmas com 500 folhas cada?” “Sr. Leon, coloquei 10% de quebra e arredondei o número de resmas. É o padrão.” Sr. Leon explodiu: “Padrão? Isso é um absurdo! Desperdício de papel! 10% de sobra? Sua máquina gráfica deve estar desregulada, deve estar precisando de uma boa manutenção. Faça isso! Outra coisa: você não sabe que fabricamos meia resma, com 250 folhas?” “Sim. Sei”, respondi. “Sete resmas com 500 folhas cada e mais uma meia resma, com 250 folhas, são mais do que suficientes." E assim foi feito. No fígado. Devo ter publicado e impresso duas ou três antologias do Concurso Literário Consulesa Antonietta Feffer. Com o passar do tempo, o Sr. Leon, madrugador que era, passou a telefonar pela manhã, para papear e jogar conversa fora, uma ou duas vezes por semana. Ficamos amigos ou quase isso. Ele falava e eu respondia. Em 1998, o Sr. Leon adoeceu e veio a falecer no dia 7 de fevereiro de 1999. O queridíssimo Sr. Leon Feffer foi o meu Malba Tahan, o homem que calculava papel para livros.
17.11.2021
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