Lendo sobre profetas “Bibliófagos”, lembrei-me do bode “Cidadão Inhaca” da cidade de Baturité/CE, dos anos 1960. “Inhaca” - benemérito baturiteense - era comedor de livros e jornais e, durante o expediente, montava guarda na porta do Jornal “A Verdade” do padrinho do meu pai Luiz, o saudoso Comendador Ananias Arruda. “Bibliófago” significa o que ou aquele que rói, come ou destrói livros. Os raros casos de bibliofagia estão descritos no Antigo e no Novo Testamento. O sacerdote Ezequiel ("A força de Deus" ou "Deus fortalece") disse que Deus lhe apresentou um papiro e ordenou: "Abre bem tua boca e come o que te vou dar.” Era um livro em forma de rolo. “Homem, come este rolo e depois vai falar aos filhos de Israel." Ezequiel o comeu, obedecendo à ordem Divina. Depois, disse: “Comi-o e eis que na minha boca parecia doce como o mel.” No Apocalipse, do profeta João de Patmos (João, o Visionário), se retoma a ideia de engolir livros: “Vai e toma o pequeno livro aberto - da mão do anjo - que está em pé sobre o mar e a terra. Toma-o e o devora. Ele será amargo nas entranhas, mas te será, na boca, doce como o mel.” João de Patmos o tomou da mão do anjo e o comeu. “Era, na minha boca, doce como o mel; mas depois de tê-lo comido, amargou-me nas entranhas.” Engolir o livro garantiu-lhe transferência e transmissão do conhecimento divino. Capacitou-o - segundo as Escrituras - a falar várias línguas e se expressar de forma segura e absoluta. Por volta de 130 d.C., o adivinho e interpretador de sonhos, Artemidoro de Daldis, escreveu sobre aqueles que sonham que estão comendo livros: "Sonhar que come um livro é bom para pessoas instruídas, para sofistas e para todos aqueles que ganham a vida dissertando sobre livros.” De tudo, lendo “História universal da destruição dos livros”, do venezuelano Fernando Báez, fico ainda com o bode “Cidadão Inhaca”, de Baturité, que comia, livros, com fome de bibliófago. “Inhaca” é figura de muitas histórias da minha vida e do livro de “quase” memória. Foi ele que começou um pouco de tudo e até hoje - vez por outra - encerra um pouco de nada.
João Scortecci
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