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VELOCÍPEDE DO POEMA SEM-FIM

Meu pedal dói. Perto dos 70 anos e eu ainda tenho sonhos! Faz parte! Aproveito o desafio que é viver e dou-me a navegar novas trilhas. Algumas são novas, desconhecidas e desafiadoras. Outras não. Trilhas antigas, pisadas, moídas, por mim e por outros. Caminhar na direção do sol não significa repetir ventos, travessias ou mapas. O dia é outro e outros. A idade voa, igual arraia. Subo na bike e refaço o aro 29 de outras trilhas. Acredito nas curvas, no suor do capacete, na sede das águas. Quem ensina é o norte das ruas, das praças e dos segredos. E eu, desavisado de tudo, continuo pedalando no destino de mim mesmo. Falo com o meu coração de poeta: esperança também se constrói! No momento estou na curva da ladeira. Chove. Meu pedal dói. Qual das dores dói mais? A do pé esquerdo, a da canela ralada ou a do braço da força? Em algum lugar do meu tempo ainda sou lúcido e isso me basta. Minha besta não me assusta. Dia 12 é assim, sempre: Eu, o velocípede da infância e o poema sem-fim. Já disse: ainda tenho sonhos! João Scortecci