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BEIJOS ROUBADOS DE CORA CORALINA E RACHEL DE QUEIROZ

Um dia tudo aconteceu. O beijo roubado de Ana. Não foi lá nos Becos de Goiás e nem nas águas do Rio Vermelho. Um dia Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas perdeu o medo e virou Cora Coralina. Foi em 1983, na sede da União Brasileira de Escritores (UBE), quando da entrega do Troféu Juca Pato - Intelectual do Ano. Eu pequenino e ela gigante! Curvei-me quase meio metro para que ela pudesse me roubar um beijo. Poucas mulheres já ganharam o valioso Troféu Juca Pato promovido pela UBE. Foi Cora Coralina que puxou a fila. Depois vieram Lygia, Rachel, Pallottini e Belinky. Foi a escritora luso-brasileira Dalila Teles Veras que - contra tudo e todos – lançou sua candidatura e a duras penas conseguiu listar as trinta assinaturas necessárias para o pleito. Uma mulher ganhando o Troféu Juca Pato e ainda uma poeta? Foi um momento de ruptura importante na entidade e que marcou história. Depois, no Troféu Juca Pato de 1992, roubei outro beijo, desta vez de Rachel de Queiroz, conterrânea e amiga da família. Meu avô paterno João Batista de Paula (1895 – 1968), o Batista da Light, era da cidade de Quixadá, no Ceará e na infância e adolescência foram amigos. Rachel perguntou: “Você é neto do Batista da Light?”. “Sou sim”, respondi. “Saudade dele: sempre alegre, sorrindo!”. Concluiu. Rachel de Queiroz estava sentada confortavelmente em uma poltrona na sala da diretoria da UBE - Rua 24 de maio 250, 13º andar -, aguardando o início da cerimônia de entrega do Troféu Juca Pato. Curvei-me e fui beijado. Foi o nosso último encontro. Rachel de Queiroz (1910 - 2003), logo depois adoeceu e morreu, aos 93 anos de idade, na cidade do Rio de Janeiro. Beijos roubados são assim: perigosos e inesquecíveis. 

João Scortecci