Interessei-me pela obra da escritora Clarice Lispector (1920 – 1977) no início dos anos 1980. Época em que tornar-me editor e gráfico de livros. Num papo de almoço de família, mamãe Nilce, depois de algumas garrafas de vinho, contou-nos, minuciosamente, dos muitos negócios que seu pai José Scortecci, filho de Esaú, italiano da comuna de Arezzo, na Toscana, havia celebrado ao longo de sua vida. Alguns eu conhecia: Proprietário de casa lotérica, dono de casa de secos e molhados, cafeicultor e avicultor, em Dois Córregos, interior de São Paulo e, pasmem, foi surpresa, editor e gráfico. Editor e gráfico? Sim. Proprietário da Revista PAN, importante semanário que circulou de 1934 a 1945. Até então meu avô era o “Seu Nem”, dono da Fazenda Nilcevia, em Dois Córregos, onde morei na infância de 1958 até 1960. “Seu Nem” vendeu a fazenda no início dos anos 1970 e junto com minha avó Maria Aparecida Campos Scortecci foram morar em São Carlos. Meu avô Scortecci faleceu em 1988, aos 85 anos de idade e minha avó Aparecida em 1987, aos 78 anos de idade. O assunto Revista PAN ficou na cabeça. Localizei pela Internet um número da revista e a partir dela iniciei uma busca por mais informações. O assunto ficou sério quando, nos anos 1990, quando solicitei o registro da marca “Amigos do livro” e descobri que nos anos 1930, ela havia pertencido ao meu avô José Scortecci. Gelei. Coincidências não existem! Nos registros – no histórico da marca – descobri, também, que depois de 1945 a marca mudou de dono e foi para as mãos do Grupo Editorial Record. Em 2008, no Rio de Janeiro, numa reunião dos preparativos pelos 200 anos da indústria gráfica, o assunto Revista PAN, Clarice Lispector, vieram à tona. Alguém da mesa perguntou-me: “O que você é do José Scortecci, editor de PAN?”. “Neto”, respondi. De volta a São Paulo localizei na cidade de Sorocaba, interior paulista, um colecionador de PAN, que, a peso de ouro, vendeu-me a coleção: 241 edições. Na revista encontrei nomes como Menotti Del Picchia, Silveira Bueno, Monteiro Lobato, Benjamin Costallat e uma gama de intelectuais, todos assíduos colaboradores do semanário. Minha amizade com o poeta Menotti Del Piccha, nos anos 1980, desconfio que teve ajuda espiritual do meu avô. Lendo e estudando a revista, descobrir que PAN, foi espaço importante para novos escritores através da página “Amigos do Livro”. E mais, assistindo uma palestra do Jornalista Alberto Dines (1932 – 2018), soube que a escritora Clarice Lispector fez sua estreia literária na Revista PAN, número 227, de 25 de maio de 1940, com a novela “Triunfo”. Já disse: coincidências não existem! Desde então, continuo pesquisando e descobrindo novidades sobre PAN e o meu avô José Scortecci. Inacreditável a importância da revista PAN na história da indústria gráfica brasileira.
João Scortecci