O matemático britânico George Boole (1815 – 1864) foi quem inventou a estrutura de álgebra – conhecida hoje como álgebra booleana – que esquematiza as operações lógicas e está presente na programação dos videogames, no código dos aplicativos, programas de computadores e no motor de busca usado pelo Google. Em 1851, Boole confessou a um amigo sobre sua invenção: “A contribuição mais valiosa, se não a única, que fiz ou que provavelmente farei à ciência, e é o motivo pelo qual desejaria ser lembrado, se é que serei lembrado, postumamente.” As portas lógicas mais básicas são, na linguagem original de Boole, E (AND, em inglês), OU (OR) e NÃO (NOT). O logotipo do Google ilustra as portas lógicas usadas em computação e que são derivadas das funções de Boole. O nome “Google” teria sido um jogo de palavras, uma brincadeira, uma variação feita pelos seus fundadores, Larry Page e Sergey Brin, em 1998, com a palavra “googol”, termo cunhado pelo matemático estadunidense Edward Kasner (1878 – 1955), que representa matematicamente o número 10 elevado à potência de 100 ou 1 com 100 zeros. Dizem que, durante a criação do buscador, quando a palavra “googol” estava sendo considerada, um investidor escreveu “Google” – erroneamente – em um cheque. Page e Brin, teriam então gostado do nome e o adotaram. Um sinal de sorte? Talvez. A invenção de Boole foi negligenciada por muitos anos, até por matemáticos famosos, desdenhando-a como apenas uma curiosidade filosófica sem qualquer significância matemática. Acordei pensando nas “Leis do Pensamento”, princípios básicos da lógica – Lei da Identidade, Lei da Não-Contradição e Lei do Terceiro Excluído – consideradas a base do raciocínio válido, formuladas pela primeira vez por Aristóteles, filósofo e polímata da Grécia Antiga. Estudei o assunto em 2001, após a virada do século, para uma apresentação na Escola do Escritor. Procurei o trabalho e não o encontrei. Acontece. Boole, sempre ele, ajudou-me, então, com a pressão na cabeça: “Cada coisa é o que é. Uma afirmação é verdadeira, se e somente se ela é idêntica ao que está sendo afirmado. Nada pode ser e não ser ao mesmo tempo. É impossível que uma proposição e sua negação sejam ambas verdadeiras simultaneamente. Para qualquer proposição, ela é verdadeira ou sua negação é verdadeira. Não há uma terceira opção.” Anotei tudo e salvei o arquivo no Dropbox com o nome: E, OU e NÃO. Fui, então, tomar café: ovos mexidos, sem azeite, sem creme de leite e apenas três torradas Bauducco. Boole riu. Surrou os meus pensamentos. Perguntou-me: “Não há outra opção?”. “Não”, respondi. Na matemática da vida cada coisa é o que é.
João Scortecci