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ÁRVORES NO CONCRETO E BANANA SPLIT / JOÃO SCORTECCI

Árvores brotam na dura estrutura de concreto do Minhocão – elevado que liga a Praça Roosevelt, ao Largo Padre Péricles, na Barra Funda - na região central da cidade de São Paulo, numa extensão de 3,4 mil metros. Popularmente chamado de “Minhocão”, nasceu Elevado Presidente Costa e Silva e depois, a partir de 2016, Presidente João Goulart. Mudou, apenas, de nome. Entre as rachaduras, está a força - e resistência - da natureza em permanecer neste mundo. A natureza brota das entranhas do concreto. “De onde ela consegue, de onde ela pode!”. Resiste e se adapta. Morei no bairro de Santa Cecília – no início dos anos 1970 – e presenciei a construção da muralha de concreto e da estação do Metrô Santa Cecília. Tragédias! Vez por outra falam em transformar o "monstrengo" num parque, num jardim suspenso, algo assim. Sou pela demolição imediata! Nos fins de semana costumo pedalar de bike na sua ciclovia suja, com vazamentos de água e tomada por mendigos e barracas. Cheiro insuportável. O conjunto Igreja e Largo de Santa Cecília marcaram minha chegada à São Paulo, isso no ano de 1972. Lembranças do Banco Brasileiro de Descontos, na esquina da Rua das Palmeiras, da Lojas Clipper, da Comunidade de Jovens de Santa Cecília, da belíssima Rua das Palmeiras e suas lojas, do Lord Hotel, local onde o time de futebol do Palmeiras concentrava-se para os jogos no Parque Antarctica, da Rua D. Veridiana, caminho para a Universidade Mackenzie e Rua Frederico Abranches, onde morava, no número 355, caminho para o Largo do Arouche, da Praça da República e do Colégio Caetano de Campos. Vez por outra lanchava "banana split" nas Lojas Clipper e passeava na imensa e belíssima loja de departamentos. Lá comprei a minha primeira camisa social. Inesquecível. Clipper era a loja dos namorados. Com o slogan "Não é só com beijos que se prova o amor", em 1948, criaram, então, o "Dia dos Namorados" no Brasil. A loja de departamentos, chique e com escadas rolantes, chegou a ser uma das maiores de São Paulo. Fechou as portas na década de 1970, após a construção do Minhocão. Tristeza. O que sobrou? Árvores que teimam sobreviver nas entranhas do monstrengo de concreto. E nada mais. 

João Scortecci