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O POETA RABEARIVELO E OS BOIS AZUIS

O poeta Jean-Joseph Rabearivelo (Jean-Casimir Rabe, 1901-1937), nasceu na República de Madagascar, país insular no Oceano Índico, maior ilha da África e a quarta maior do mundo, situada na costa sudeste da África. Quando nasceu, o país ainda se chamava República Malgaxe, uma colônia francesa, que se tornou independente no ano de 1960. Os malgaxes formam o grupo étnico de mais da metade da população da ilha, hoje estimada em 28 milhões de habitantes. Rabearivelo é considerado o primeiro poeta moderno da África e o maior de Madagascar. Publicou seus primeiros poemas ainda adolescente, em revistas literárias locais. “La coupe de cendres” (1924) é o seu livro de estreia na poesia. Publicou em inúmeras antologias de poesia em francês e malgaxe, bem como críticas literárias, peças teatrais, uma ópera, além de dois romances, publicados postumamente: “L'Interférence, suivi de Un Conte de la Nuit” (1988) e “Irène Ralimà sy Lala roa” (1988). Rabearivelo trabalhou na editora Imprimerie de L’Imerina, como revisor e editor. Passou a ser conhecido na Europa por meio de um artigo, em francês, sobre a poesia malgaxe, publicado pela revista austríaca missionária “Anthropos”. Nos versos do poema “O boi branco” do livro “Quase Sonhos” (1934) (tradução de Antonio Moura, Lumme Editor, 2004), assim se expressa: “Esta constelação em forma de cruz, é ela o Cruzeiro do Sul?/ Eu prefiro chamá-la Boi-branco, como os Árabes./ Ele vem de um parque que se estende às margens da noite/ e se enfurna entre duas Vias Lácteas./ O rio de luz não tem aplacado sua sede,/ e ei-lo que bebe avidamente do golfo das nebulosas./ Sendo um efebo cego nas regiões do dia,/ ele nada tem podido acariciar com seus cornos;/ mas, agora que as flores nascem nas pradarias da noite/ e que a lua brota de um salto como um touro,/ seus olhos recobram a visão, e ele parece mais forte que os bois azuis/ e os bois selvagens que dormem em nossos desertos”. Rabearivelo cometeu suicídio por envenenamento com cianeto. Na manhã do seu suicídio, escreveu um poema final e queimou os cinco primeiros volumes do seu diário pessoal, os “Calepins Bleus” ("Cadernos Azuis"), deixando apenas os últimos quatro volumes, aproximadamente 1.800 páginas, que documentam a sua vida a partir de 1933. Nas suas anotações finais no diário, registrou, ainda, detalhadamente, a experiência do seu suicídio. Tinha 36 anos de idade e, apesar das desilusões e amarguras em seu último ano de vida, parecia mais forte que os bois azuis do Cruzeiro do Sul.

João Scortecci