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OS POETAS LINDOLF BELL E PÉRICLES PRADE

Conheci o poeta Bell (Lindolf Bell, 1938 - 1998) nos anos 1980. Dizia sempre: “menor que o meu sonho não posso ser”. Quem nos apresentou foi o também poeta catarinense Péricles Prade, na época Presidente da UBE - União Brasileira de Escritores. Disse-me: “Scortecci, hoje o Bell vai relançar no Spazio Pirandello o livro “As Annamárias”. Vamos?” Fomos! Eu, Péricles, Caio Porfírio Carneiro, Lauro Vargas e outros diretores da entidade. O Spazio Pirandello, Rua Augusta, 311, era no início dos anos 1980, ponto de encontro de jornalistas, escritores e intelectuais. Foi lá que conheci Loyola, Moacir Amâncio, Mario Prata, Caio Fernando Abreu e outros. Naquela noite - inesquecível e até hoje de Catequese Poética - Bell declamou o Poema das Crianças Traídas: “Eu vim da geração das crianças traídas. Eu vim de um montão de coisas destroçadas. Eu tentei unir células e nervos, mas o rebanho morreu. Eu fui à tarefa num tempo de drama. Eu cerzi o tambor da ternura, quebrado... Eu sou a geração das crianças traídas. Eu tenho várias psicoses que não me invalidam...” Trocávamos, vez por outra, cartas datilografadas. Eu as guardo até hoje. A última carta que recebi é datada de 11 de maio de 1991 e nela Lindolf Bell escreveu: “De muitas maneiras, (e não tantas neste país), as pessoas resistem no ofício.” Verdade. Não podemos ser menores que os nossos sonhos. Lindolf Bell morreu jovem, em 1998, aos 60 anos de idade. Hoje, 16 de maio de 2024, faleceu o poeta e jurista Péricles Prade, elo imortal do poema das crianças traídas.   

João Scortecci