Pesquisar

EU E OS IMORTAIS LOYOLA E ZIRALDO

Uma história puxa outra! Lendo o post de um amigo nas redes sociais, falando de sua amizade e como conheceu o escritor Ignácio de Loyola Brandão, isso nos anos 1970, voltei, também, no tempo. Conheci o Loyola Brandão no restaurante Spazio Pirandello – na época, casa da boêmia paulista, dos empresários Wladimir Soares e Antônio Maschio – localizado na Rua Augusta, n. 311, no início dos anos 1980. Era no Pirandello – ponto de encontro de intelectuais – que a vida literária e cultural da cidade acontecia, no maior estilo. A casa reunia bar, restaurante, livraria, galeria e antiquário. Lançar um livro no Pirandello era o máximo, sinal de casa cheia, sucesso e venda garantida. Fui, então, ao lançamento do livro “Livre & Objeto”, da escritora cearense Joyce Cavalccante. Na época conhecia pouca gente e a vida literária era tudo, até então, uma grande novidade. No meio do agito, restaurante lotado, avistei, de longe, o escritor e cartunista Ziraldo, autor de “Flicts” (1969), livro do coração, que ganhei de presente do meu irmão José Henrique, em 1972. “É o Ziraldo!” Não pensei duas vezes. Fui até ele, na maior cara de pau. “Ziraldo, sou seu fã”. Ele me olhou, sorriu e disse-me, ao pé do ouvido: “Pena que eu não sou o Ziraldo! Sou o Ignácio de Loyola Brandão!”. Minha cara caiu. Perdi o rebolado. Quase morri. Loyola, educado, gentil, percebendo o meu desespero, disse-me: “Conheço o Ziraldo. Obrigado por me confundir com ele.”. Comprei o livro da escritora Joyce Cavalccante e fui embora. Ontem – 06 de abril de 2024 – perdemos o incrível Ziraldo, aos 91 anos de idade. Loyola Brandão gravou um áudio sobre o amigo Ziraldo, que está circulando na mídia. Lindo depoimento! Foi surpresa escutá-lo dizer: “Quando ainda tinha cabelos, vez por outra, era confundido com Ziraldo”. A história reforça o que aconteceu comigo no Spazio Pirandello, no início dos anos 1980. Loyola profetizou: “Pena que eu não sou o Ziraldo!"

João Scortecci