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PASQUINADAS E O RATINHO SIG

O Pasquim foi o mais prestigiado semanário brasileiro de oposição ao regime militar pós-1964 e circulou entre 1969 e 1991. Seus fundadores foram: Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral e Ziraldo. De uma tiragem inicial de 20 mil exemplares, atingiu – em meados dos anos 1970 – a marca de mais de 250 mil. O Pasquim se caracterizava – no início – como uma publicação comportamental, que falava sobre sexo, drogas, feminismo e divórcio. Depois, foi se politizando, principalmente após a promulgação do Ato Institucional n. 5, de 13.12.1968, passando, então, a ser porta-voz da indignação de setores da sociedade brasileira. O título, que significa "jornal difamador, folheto injurioso", foi sugestão de Jaguar (Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, 1932 -     ): "Terão de inventar outros nomes para nos xingar!" "Pasquim", do italiano "pasquino", era o nome de uma estátua mutilada sobre a qual os romanos afixavam escritos anônimos. Aos pés da estátua e, geralmente, no pescoço eram coladas “as pasquinadas”, folhetos com conteúdo satírico, frequentemente em versos, dirigidos a personagens públicos importantes, inclusive ao Papa. Como símbolo do jornal, foi criado o ratinho Sig (de Sigmund Freud, 1856 – 1939), desenhado por Jaguar, baseado na anedota da época que dizia: "Se Deus havia criado o sexo, Freud criou a sacanagem". Com o tempo, juntaram-se ao time figuras de destaque na imprensa brasileira, como Millôr Fernandes, Manoel "Ciribelli" Braga, Miguel Paiva, Prósperi, Claudius e Fortuna. Além de um grupo fixo de jornalistas, a publicação contava com a colaboração de nomes, como Luiz Carlos Maciel, Henfil, Paulo Francis, Ivan Lessa, Carlos Leonam, Sérgio Augusto, Ruy Castro, Laerte e Fausto Wolff. Em 20 de novembro de 1969, por causa de uma entrevista com a atriz Leila Diniz (1945 – 1972), feita pelo cartunista Jaguar e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral, foi instaurada a censura prévia aos meios de comunicação, por meio da Lei de Imprensa. Em novembro de 1970, a maioria dos redatores foi presa, depois que o jornal publicou uma sátira do célebre quadro de Dom Pedro I às margens do Ipiranga, de autoria de Pedro Américo (Pedro Américo de Figueiredo e Melo, 1843 - 1905). Até fevereiro de 1971, o semanário foi mantido sob a editoria de Millôr Fernandes (que escapara à prisão), com colaborações de Chico Buarque, Antônio Callado, Rubem Fonseca, Odete Lara e Glauber Rocha. O Pasquim foi alvo de dois atentados a bomba. Na década de 1980, bancas que vendiam o semanário passaram a ser alvo de atentados e de ameaças, o que levou os jornaleiros – na sua maioria – a recusarem trabalhar com a publicação. Graças aos esforços do cartunista Jaguar, O Pasquim continuaria ativo até a edição de número 1.072, de 11 de novembro de 1991.

João Scortecci