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AS GEMÊAS LYSSA E LYTTA E O SIGMA OITANTE

Lyssa (a loucura) e Lytta (a demência) são irmãs gêmeas. Moram nas entranhas do inferno. Vivem para infernizar a vida de Sirius, estrela brilhante da constelação de Cão Maior, da casa do hemisfério celestial Sul. Tudo inveja! Sirius, no melhor da escuridão da noite, amoroso e sedutor, só tem olhos de paixão para as moças da Terra Azul. Lyssa e Lytta, enlouquecidas e dementes, não o perdoam pelo desprezo. Indiferença, talvez. Lembro-me do dia em que conheci Sirius, durante um sonho, navegando no infinito mapa do céu. Acordei – assustado e surpreso – e dei de cara com as gêmeas Lyssa e Lytta, olhando-me, enfurecidas de ciúmes. Pareciam saber de tudo. “O que aconteceu?”, perguntei. A loucura e a demência, feridas e possuídas pelo ódio, mexeram as mãos, os anéis dos dedos, jogaram algo amargo nos meus olhos e – num passe de bruxaria – expulsavam Sirius dos meus doces pensamentos. Nada – ou quase nada – sobrou. Feitiçaria? Reencontrei Sirius muitos anos depois, quando, num dia pátrio, navegava na bandeira verde e amarela do Brasil. Lá estava ele, brilhante, a quarta estrela de cima para baixo, lado esquerdo, no hemisfério Sul, simbolizando o estado do Mato Grosso. “Eu sou Sirius!”, apresentou-se. Depois, adivinhando a minha curiosidade, apontou-me estrela por estrela, todas as 26, até chegar e parar, misteriosamente, no Sigma Oitante, a décima oitava letra do alfabeto grego: “Brasília!” “Oitante: o que significa?” Sirius, louco e demente de amor pela Terra Azul, segredou-me: "instrumento de medida da latitude a partir da medida da altura de um astro por meio de dois espelhos que se olham na odiosidade do medo." Depois, calou-se. E ali, na boca do Oitante, jurei nunca mais esquecê-lo. Mesmo nos piores dias de loucura e nas mais terríveis noites de demência. Cão Maior, então, o chamou. E Sirius partiu.


João Scortecci