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DOENÇA DE CORNO, ESPINHELA CAÍDA E ARTERIOSCLEROSE

No Ceará dos anos 1960 só existiam três doenças. Espinhela caída, doença de corno e arteriosclerose. As duas primeiras, crônicas ou não, tinham remédio e, com alguma sorte e tempo, até cura! O esterno, do nada, um dia qualquer, parava de doer e os chifres, secavam e caíam de vez no esquecimento. A terceira doença – a arteriosclerose – era de morte e não tinha cura, infelizmente. O encarnado morria frouxo das calças e esquecido das memórias. Doença covarde! O sujeito, vez por outra, até faísca algo, mas depois apaga de tudo. Minha família – por parte de pai – sofre desbragadamente de arteriosclerose. Ninguém escapa! Perdi, assim, meus avós paternos, João Batista e Sarah do Carmo. Meu pai, Luiz, quando morreu – na década passada – disseram: é demência! Hoje, lendo sobre terçol, descobri que o povo chama de “viúva” esse troço no olho. Engraçado foi saber que existe simpatia para curar a infecção decorrente de bactérias estafilococos. Simpatia para curar inquietação de “viúva”. Está na Internet. Anotem. Pode, um dia, ser útil: Tirar do dedo o anel de ouro – para quem ainda não o colocou no prego – e esfregá-lo com resiliência, na cueca adormecida do falecido. Depois de o anel de ouro estar bem “energizado”, colocá-lo na cabeça do terçol e segurar firme, por dois minutos. Pronto. Tiro e queda! Andei listando “mazelas” caseiras de antigamente, que – creio – não existem mais: cobreiro, furúnculo e pereba. Hoje, são outras: virose e demência! Vovó Sarah curava de tudo. Furava, cortava, espremia e depois jogava na carne rasgada um banho de mercurocromo. Resolvia. Vovó Sarah dizia, sempre: vão-se os anéis e ficam os dedos! Na plenitude de sua “demência”, chupava laranja lima, comia marmelada Colombo, assava suspiros e cantarolava uma canção de amor: “O mar também tem amante,/o mar também tem mulher./É casado com a areia,/dá-lhe beijos quando quer...”

João Scortecci