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O PRIMEIRO AMOR NÃO MORRE, NUNCA!

Cricriano era um sujeito chato de galocha. Um enjoado. Seu sonho: ser um famoso galã de fotonovelas. Vestia-se com brinco. Camisa “volta ao mundo”, calça de nycron, corrente no pescoço e brucutu de fusca no indicador da mão esquerda. Nos cabelos, brilhantina de lascar o cano. Gostava de talco Palmolive, exageradamente. Perfume? O melhor: Bruts. Solteiro, vinte e poucos anos, boa pinta, emprego no cartório da cidade, pai delegado de polícia e mãe “do lar”. Tinha uma irmã caçula, 16 anos, de nome Flor e apelido Rabanete, que, quando abria a boca, avermelhava-se toda. Cricriano era um prafrentex. Um pão. Dançava bem – colado e solto – e, quando sorria, mexia com a imaginação dos brotos. O bafafá começou na quermesse da igreja do Sagrado Coração de Jesus, quando, no escurinho do trem fantasma, alguém colocou a mão na pureza de Flor, sua irmã. Um escândalo. Flor gritava e chorava, chamando a atenção do povo e apontando o dedo na direção do maquinista. “Tarado!” Cricriano, quando soube do assédio, perdeu a pose e pulou – com os dois pés – no peito do maquinista, feito o Ted Boy Marino. Foi murro, cuspe, empurrão, mordida, de tudo um pouco. “Aparta! Aparta!”, alguém gritava, desesperadamente. Quando me dei conta da confusão, já era tarde. O magrelo do maquinista – depois de apanhar muito – estava estirado no chão da praça, parecendo um morto. “Rabanete – perguntei – o que aconteceu? O que o moço do trenzinho fantasma fez com você?” Flor nada disse. Ajoelhou-se ao lado do moço surrado, segurou sua mão, abriu a bolsa, tirou de dentro um lenço de mulher e limpou – amorosamente – o sangue que lhe escorria do nariz e da boca. “Qual é o seu nome?”, perguntou-lhe, carinhosamente. Cricriano, confuso, sem entender nada, montou guarda ao lado, ainda na posição de ataque. Flor, a Rabanete, ardia feito um pimentão. O maquinista – ainda zonzo – respondeu-lhe, quebrando, então, o silêncio da noite. “Francisco, mas o povo da quermesse me chama de Chiquinho, o fantasminha camarada”. Então, no melhor da quermesse da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Fortaleza do ano de 1969, véspera do dia de o astronauta Neil Armstrong, na Apollo 11, pisar pela primeira vez na Lua, Rabanete gritou, alto, para o céu daquela inesquecível cena de amor: “Fantasminha, você quer se casar comigo?” Foi o que aconteceu. Deixei o Ceará em 1972 e nunca mais soube deles. Quanto ao Cricriano – até onde sei – seguiu a carreira do pai, tornou-se delegado de polícia e colecionador de fotonovelas. No Brasil, as fotonovelas tiveram um mercado cativo entre os anos 1950 e 1970, com milhões de leitores de histórias publicadas em revistas com grande circulação nacional. A primeira fotonovela foi publicada em 31 de julho de 1951, com o título "O primeiro amor não morre". Nunca!

João Scortecci