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AS MELGAS E A ALMA TRANSPIRANTE DO POETA

Não gosto de pernilongos. Duvido que alguém - deste mundo - goste. São medonhas! Dizem, não sei se é verdade, que fazem parte da cadeia alimentar das aranhas e das lagartixas. Andei lendo sobre “muriçocas” – nome popular no Nordeste brasileiro para designar esse inseto – depois que soube o motivo científico deles me azucrinarem a vida, além da conta. Tenho no corpo “transpirante” excesso de dióxido de carbono e ácido lático. Isso eu não sabia. Durante o sono, entro em “fotossíntese”, transformando energia solar em energia química. Eita! Sou uma usina de cheiros, manias, desejos e vontades, que mexem com a cabeça das melgas – nome das fêmeas do inseto em muitas regiões. Elas me adoram! A história toda me deixou “cabreiro”. As melgas se alimentam de sangue, isso todo mundo sabe. Botam de 100 a 200 ovos, por vez. Antes da picada, num ritual de caça, vibram suas asas velozmente, com 270 a 310 batidas por segundo. Essas batidas de asas desencadeiam uma onda de pressão, com propagação de som pelo ar, numa frequência frenética, audível pelo ouvido humano. Quando o alvo é encontrado, o número de batidas de asas pode aumentar para 500 ou mais, por segundo. Quando “chapadas” com dióxido de carbono e ácido lático, ficam frenéticas! As melgas atacam nos dias de calor, na temperatura ambiente ideal para seu organismo, em torno de 26 ºC a 28 ºC. O calor e as tardes chuvosas aceleram o ciclo biológico das “meninas” barulhentas. Abaixo dos 18 ºC, elas hibernam. Acima dos 42 ºC, elas morrem. Nós também! Cada vez que se alimentam de sangue, as fêmeas realizam uma postura de ovos. A gestação e a postura duram de três a quatro dias. Os machos – isso eu não sabia – vivem de néctar ou seivas vegetais. São veganos! Após “transarem”, permanecem colados às fêmeas pelo seu esperma, evitando, dessa forma, que seus rivais se aproximem. Incomodadas, as melgas, livram-se dos machos grudentos, devorando-os, poupando, apenas, seu órgão genital, que exerce a função de “rolha” para impedir que outro pernilongo entre “no pedaço”. Depois de fecundadas e de devorarem seus parceiros – “numa boa, sem qualquer constrangimento” –, saem à caça, em busca de sangue fresco. A digestão do alimento pelas melgas dura, aproximadamente, 45 minutos. Depois, voltam e atacam sua vítima novamente. No Ceará, existe uma cidade de nome Sobral, a cerca de 230 km de Fortaleza, onde as muriçocas são gigantes. No lugar em que elas picam, forma-se um caroço maior que uma “pataca”. Não estou exagerando! A história “vampiresca” das muriçocas voadoras faz parte do folclore cearense. A cidade de Sobral - Januária de Acaraú até 1842 - é conhecida mundialmente por ter sido o local de comprovação da teoria da relatividade geral do físico alemão Albert Einstein (1879 – 1955), após um grupo de cientistas britânicos ter acompanhado o eclipse solar de 29 de maio de 1919. Melgas à parte – aqui com as minhas tripas –, sinto que Einstein, o físico alemão, é o principal culpado da gravidade do Sol, da postura do dióxido de carbono e do ácido lático no meu sangue e pelas fervuras poéticas da alma de poeta.

João Scortecci