Palco de um assassinato cercado – até hoje - de muito mistério. Mãe e dois filhos – adultos – foram encontrados mortos a tiros, em 1937. O crime do “Castelinho da Rua Apa”, como é conhecido, intriga e assusta os paulistanos, principalmente depois que ganhou fama de mal-assombrado. Uma família importante e influente da época, donos do Cine Broadway - encerrou suas atividades em 1967 e o prédio foi demolido nos anos 70 - de propriedade de Maria Cândida Guimarães dos Reis, uma socialite, muito religiosa, viúva do médico Virgílio César dos Reis. Na época da tragédia, Maria Cândida tinha 73 anos de idade. Um de seus filhos, Álvaro (45 anos, advogado), exímio patinador - chegou a ser recordista mundial nesse esporte - gostava de festas, mulheres e viagens. O outro filho, Armando (43 anos, também advogado), em questão de personalidade, era reservado e diferente do irmão. Um desentendimento entre eles, foi o gatilho para o crime. Álvaro queria fechar o cinema – estava cheio de dívidas – para no local, instalar um rinque de patinação. Armando, responsável pelas finanças da família, recusava-se, alegando que isso não seria uma garantia de retorno financeiro como era, até então, o Cine Broadway. A gota d’água veio em maio de 1937. Os dois irmãos teriam discutido, os ânimos se exaltaram, e eles apontaram armas um para o outro. De acordo com a versão oficial, Álvaro foi o culpado: baleou fatalmente a mãe e o irmão e depois cometeu suicídio, com dois tiros no peito. Há controvérsias sobre a versão oficial. Leda Kiehl, sobrinha-neta de Maria Cândida e autora do livro “O Crime do Castelinho: Mitos e Verdades” (2015), discorda da versão oficial. A pistola de Álvaro foi encontrada na cena do crime. Segundo Leda Kiehl, o método de seu suicídio já era incomum o suficiente para duvidar dos fatos. Além disso, os legistas encontraram vestígios de pólvora na mão de Armando, e, para eles, o mais novo dos irmãos teria sido o autor. Há, ainda, outra hipótese: segundo os médicos, a mãe teria sido assassinada com quatro tiros, não três, como apontava o laudo policial. Duas das balas seriam de uma arma de calibre diferente da pistola de Álvaro, o que indicaria a presença de uma quarta pessoa, e tornaria o crime uma chacina encomendada. A polícia descobriu, também, papéis assinados pelo filho mais velho que demonstravam que sua situação financeira era delicada, mas seus credores, que poderiam estar por trás de tudo, nunca foram encontrados. O "Castelinho da Rua Apa" passou por um imbróglio judicial e, abandonado, acabou passando para as mãos do Estado. A deterioração só contribuiu para reforçar as lendas sobre o lugar. Hoje, o “Castelinho” é administrado pela ONG Clube das Mães do Brasil e foi restaurado no período de 2015 a 2017. Mesmo assim, a lenda de mal-assombrado permanece. Pessoas que frequentam o “Castelinho” dizem ouvir passos, choros e lamúrias dos espíritos dos mortos no lugar.
João Scortecci