“Pai, essa casa me dá arrepios!” Era o que me dizia minha filha Patrícia – criança, na época – sempre que passávamos em frente ao casarão de número 1111, da Rua Piauí, a alguns metros da Praça Vilaboim, no coração do bairro de Higienópolis, na cidade de São Paulo. Moramos ao lado, no número 1145, isso nos anos 1990. Lembro-me do casal de idosos sentados na varanda da casa. Eram o médico urologista Geraldo Vicente de Azevedo, ex-Diretor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, e sua esposa, Maria de Lourdes Danso Vicente de Azevedo. Geraldo – filho de Francisco de Paula Vicente de Azevedo, o Barão de Bocaina, título que recebeu por decreto do Imperador D. Pedro II – faleceu em 1998, aos 91 anos de idade, e Maria de Lourdes, em 2011. Nunca soube da filha do casal, Margô (Margarida Maria Vicente de Azevedo Bonetti), que mora na casa considerada por muitos como assombrada. No passado, Margô e seu marido, Renê Roberto Bonetti, foram acusados de manter uma empregada em condições análogas à escravidão, durante 20 anos, nos Estados Unidos. Renê cumpriu pena de seis anos, no final dos anos 1990, e Margô foi acusada pelos mesmos crimes, mas, na época, fugiu para o Brasil e veio morar com os pais. No início do ano de 2022, o assunto do crime voltou à tona, depois do “podcast” do jornalista Chico Felitti, sobre “A mulher da casa abandonada”. Dizem – não sei se é verdade – que rola uma briga na justiça pela propriedade. Hoje, no último pedal do ano de 2022, revisitei a casa. Confesso: continua assombrada, misteriosa e irresistível.
