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“ALMOÇO EM CASA” COM O POETA ARTUR DE AZEVEDO

Na mesma época que me tornei editor de livros, no ano de 1982, abri um dos primeiros restaurantes “self-service” da cidade de São Paulo. Chamava-se “Almoço em Casa”. Ficava na Rua Artur de Azevedo, nº 1129, no bairro de Pinheiros, e funcionou durante dois anos. A casa foi importante no início da vida de empresário. Pagava as contas! Lembro-me de que, na época, o nome da rua – em homenagem ao dramaturgo, poeta, contista, prosador, comediógrafo e jornalista Artur de Azevedo (1855 - 1908) – foi um sinal “cultural” na hora da escolha do local. “Almoço em Casa” ficava a três quarteirões da editora, na loja 13 da Galeria Pinheiros, na Rua Teodoro Sampaio, nº 1704. Artur, com seu irmão, o escritor Aluísio Azevedo (1857 - 1913), foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Era um apaixonado pelo teatro – um comediógrafo –, tendo encenado mais de cem peças no Brasil e em Portugal. Artur foi um dos apoiadores da criação do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia, centro da cidade do Rio de Janeiro, inaugurado em 1909, poucos meses depois de sua morte. Outro dia, sussurrou-me, os versos: “Ai, quem me dera, em verso aprimorado, / saber reproduzir tão lindas cenas!” Então, voltei no tempo... No melhor das minhas lembranças do ano de 1982, pude – liberto – reviver cenas de mim mesmo. Eu com 26 anos de idade. Havia largado o emprego, para viver – literalmente – de livros. Me vi, primeiro: escolhendo feijão, lavando arroz, cortando cebolas, descascando batatas e pepinos, moendo carne e olhando, pelos olhos do tempo, o relógio das horas. “Ai, quem me dera” a releitura do sonho! Faria tudo igual, novamente. Quem me dera “reproduzir tão lindas cenas”, do eu de mim. Depois, me vi, largando as "panelas" e voando - liberto - para a editora. Artur ficou, nos versos.  Obrigado! Em 2024 as casinhas da Rua Artur de Azevedo, em Pinheiros, foram demolidas, para a construção de mais um prédio comercial. Descobri o que já sabia sobre o tempo: Ai, quem me dera, em verso aprimorado, reencontrar o eu de mim. Quem me dera! 


João Scortecci