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O POETA GIORDANO BRUNO E A ARTE DA MEMÓRIA

O poeta, teólogo, filósofo, matemático, teórico de cosmologia, ocultista e frade dominicano italiano Giordano Bruno (nascido Filippo Bruno, 1548 - 1600) foi condenado à morte na fogueira pela Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício, sob a acusação de heresia, ao negar várias doutrinas católicas essenciais, incluindo a Condenação eterna, a Trindade, a divindade de Cristo, a virgindade de Maria e a transubstanciação - mudança do pão e do vinho na substância do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, no ato da Consagração. Giordano Bruno ficou conhecido por suas teorias cosmológicas. Afirmava que as estrelas eram sóis distantes, cercados por seus próprios planetas, e levantou - ainda - a possibilidade de que esses planetas criassem vida neles mesmos, proposição filosófica conhecida como pluralismo cósmico. O pluralismo cósmico é a crença de que diferentes mundos, além da Terra, podem sustentar vida alienígena. Afirmava, ainda, que o universo era possivelmente infinito, e nele não poderia haver um "centro". Giordano Bruno foi executado em uma fogueira no Campo das Flores (Campo de' Fiori), em Roma, em 1600. Visitei a Praça de' Fiori, em Roma, no ano de 2008. No centro da praça, o busto encapuzado de Giordano Bruno, levantado em sua homenagem. O monumento — belíssimo —, obra do escultor Ettore Ferrari (1848 - 1929), foi erguido em 1889, por círculos maçônicos italianos. Após sua morte, Giordano Bruno ganhou fama considerável e passou a ser considerado, por muitos, como um mártir da ciência. Além da cosmologia, estudou e escreveu sobre a arte e as técnicas de estimulação da memória. Antes da invenção do primeiro alfabeto linear - por volta de 1700 a.C., pelos fenícios -, todo o processo de transferência de informação era basicamente oral e, para tanto, esses povos precisaram desenvolver técnicas eficazes de memorização, a fim de assegurar sua unidade política, social e religiosa. A "arte da memória" foi sendo deixada de lado com o advento e a expansão do universo da imprensa. Os gregos consideravam a memória uma identidade sobrenatural e divina, que dava aos poetas o poder de voltar ao passado e de lembrá-lo para a coletividade. A "arte da memória" tinha ainda o poder de conferir imortalidade aos mortais: o poder de contar suas histórias e falar sobre suas raízes, heranças e sonhos. Giordano Bruno, mais do que ninguém, foi o poeta da memória - com o poder de voltar ao passado - e também da imortalidade - no infinito da poesia e sua arte. 

João Scortecci