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EMÍLIO MOURA: “VIVER NÃO DÓI. O QUE DÓI É A VIDA QUE NÃO SE VIVE.”

O poeta modernista Emílio Moura (Emílio Guimarães Moura, 1902 – 1971) nasceu em Dores do Indaiá, pequena cidade do centro-oeste mineiro. São também dessa cidade: o professor, jurista e político Francisco Campos (1891 – 1968), responsável pela reforma do ensino secundário de 1931, pela redação da Constituição brasileira de 1937 e do Ato Institucional n.1, resultante do golpe militar de 1964; e o escritor, sociólogo e cientista político Bolívar Lamounier, primeiro diretor-presidente do IDESP - Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo. Emílio Moura e outros intelectuais mineiros – entre eles, Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Martins de Almeida, João Alphonsus, Cyro dos Anjos, Aníbal Machado, Abgar Renault, Milton Campos e Gustavo Capanema – participaram ativamente do chamado “modernismo mineiro”, na década de 1920. Moura foi redator de “Cadernos literários” dos periódicos “Diário de Minas”, “Estado de Minas” e “A Tribuna de Minas Gerais”, professor universitário e um dos fundadores da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, em 1945, onde lecionou e da qual foi o primeiro diretor. Em 1924, com Carlos Drummond de Andrade, Gregoriano Canedo e Martins de Almeida, fundou o grupo que editava “A Revista”, publicação literária modernista – a primeira de Minas Gerais e a terceira do Brasil – que teve apenas três edições: em julho e agosto de 1925 e janeiro de 1926. Foram colaboradores da publicação: Manuel Bandeira, Ronald de Carvalho, Mário de Andrade, João Alphonsus, Abgar Renault e Pedro Nava. Quando Drummond soube de sua morte, em 28 de setembro de 1971, assim escreveu como despedida ao amigo: “Corredor ou caverna ou túnel ou presídio, não importa. Uma luz violeta vai seguir-me: a saudade de Emílio Moura". Em 1970, Emílio Moura obteve o Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro, com “Itinerário Poético”, coletânea de todos os seus livros, considerada por ele sua obra definitiva. Lá está um de seus célebres poemas, “Renúncia”: “Se eu cheguei a esta renúncia total, foi porque o meu sofrimento me transfigurou sem que eu o percebesse./Aqui estou, tímido e humilde./Parece que aqui estou há séculos./Meus olhos já não compreendem outra realidade./ A realidade que amei dorme na sombra.”
João Scortecci