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OS PASSARINHOS DE CÂMARA CASCUDO

O livro “O tempo e Eu - confidências e proposições” do poeta, historiador, folclorista, advogado e jornalista Câmara Cascudo (Luís da Câmara Cascudo, 1898 - 1986) foi publicado em 1967. Obra de natureza autobiográfica, com apontamentos sobre sua vida, suas vontades, interesses e sonhos. O livro ocupou-se de mim quando visitei um sebo em Pinheiros, zona oeste da cidade de São Paulo. Isso em 1988. Até então nunca tinha lido nada do folclorista potiguar. Ali mesmo - de pé - apoiado numa estante abarrotada de livros, dei conta das suas proposições, página por página, linha por linha, senti suas confidências de meninice, vivi o seu tempo presente e distante de tudo e, mais do que surpreso, enxerguei-me, inteiro, no abraço do seu Eu. Luís da Câmara Cascudo - rosto, olhar e boca - sempre assustou-me. Confesso! "Hora de fechar!" Era a voz do alfarrabista anunciando - pontualmente - o final do dia. Comprei o exemplar e o carreguei a tiracolo, por alguns dias, até o “medo de careta” desaparecer da cabeça e do coração. Sumiu. O livro “O Tempo e Eu - confidências e proposições” trouxe-me relevância, bondade, compreensão, gratidão, paz e sabedoria popular. Câmara Cascudo - o poeta - resfolegou: “Os pássaros não são devedores dos frutos e da água da fonte. Eles testificam, perante a natureza, a continuidade da missão cultural.”. Um detalhe, não relevante: Não tenho mais medo de careta! Câmara Cascudo morreu na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, aos 87 anos, em 30 de julho de 1986. 

João Scortecci