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O LIVRO DO TRAVESSEIRO E AS VAIDADES DO MUNDO

O livro do travesseiro (Makura no Sōshi), da escritora japonesa Sei Shônagon (c. 966 – 1017), um inventário da cultura do Japão feudal, escrito no século X, é a principal obra da literatura clássica japonesa. Sei Shônagon foi dama de companhia da Imperatriz Teishi (Princesa Sadako), durante o Período Heian, última divisão da história clássica japonesa, indo de 794 a 1185. A obra é um composto de 300 textos curtos, que podem ser lidos em sequência ou ao acaso. Com uma capacidade de produzir insights – compreensão de uma causa e efeito específicos dentro de um contexto particular –, o livro ilumina tanto os pequenos fatos do cotidiano no Palácio Imperial quanto os fenômenos da natureza, as sutis interações da vida social e a refinada trama de valores estéticos, que enlaçam e organizam praticamente todas as esferas da cultura. O livro do travesseiro foi traduzido para o português por uma equipe de professoras do Centro de Estudos Japoneses da Universidade de São Paulo – Geny Wakisaka, Junko Ota, Lica Hashimoto, Luiza Nana Yoshida e Madalena Hashimoto Cordaro – e publicado em 2013, pela Editora 34. Pouco se sabe sobre a vida da autora – nem mesmo o seu nome verdadeiro. Sei Shōnagon é um apelido que recebeu quando entrou para a corte da Princesa Sadako. Na época, as damas de companhia recebiam um novo nome, composto pelo ideograma do nome de família. O título da obra em japonês – Makura no sōshi –vem de um episódio que é contado no livro, segundo o qual a Princesa Sadako havia recebido de presente um maço de folhas de papel de boa qualidade – artigo de luxo, na época – e não sabia o que fazer com ele. Sei Shōnagon, então, aconselhou a Princesa Sadako a fazer um travesseiro com o maço de folhas de papel. O livro do travesseiro foi escrito por volta dos anos 1001 e 1010, quando Sei Shōnagon já havia deixado a corte, possivelmente como monja em um templo budista, onde terminaria seus dias em preces, orações e abdicação das vaidades do mundo.

João Scortecci