Pesquisar

“VOZES” NA BIENAL DO LIVRO DE 2010

A 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo aconteceu no mês de agosto de 2010, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, na cidade de São Paulo. Mais uma vez, a Scortecci esteve presente com lançamento de livros, antologias e intensa programação. Trezentos e cinquenta expositores participaram da maior festa literária daquele ano no Brasil. No primeiro sábado - comumente o dia de maior público - fui abordado por um senhor de meia-idade, na casa dos 60 anos, de terno escuro, apertado, camisa de gola puída, sapatos marrons, pasta 007, óculos fundo de garrafa, que dizia trazer do além uma mensagem para mim. Foi o que ele me disse. “Você é o Scortecci?”. “Sim, sou eu”, respondi, balançando a cabeça. “Sr. Scortecci, tenho um recado do além para você!”, repetiu duas vezes. Na segunda, sussurrou, cobrindo a boca com as mãos, em formato de concha. “Sei. Do além? E qual o recado?”, cobrei, já me despedindo. Os corredores da feira estavam apinhados de gente. O mensageiro, então, aproximou-se ainda mais e resfolegou: “Jesus, o Nazareno, quer que você publique o meu livro.”. “Ele quer?”. “Sim, ele quer”, confirmou. “E o seu nome: qual é?”. “Meu nome é Jeremias”. Abriu a pasta 007 e tirou um maço de folhas datilografadas. “É o livro. Os originais da obra?”, perguntei. “Sim. Do Cristo para você!”. “Compreendo. Posso dar uma olhada?”. “Não!”, respondeu. “E por que não?”, perguntei, já perdendo a paciência. “Primeiro, precisamos celebrar um contrato. Pode ser escrito à mão. E que também faça um depósito bancário, um adiantamento financeiro, pela compra dos direitos autorais da obra.”. “Sei”, murmurei. “Vai vender - continuou falando - mais de três milhões de exemplares, no mínimo.”. “Puxa! Tudo isso?”. “Sim. Estou oferecendo também os direitos do filme?”. ”Filme? Não, obrigado, Jeremias. Três milhões de exemplares é muita ‘areia’ para o meu negócio. Recomendo que procure outra editora - uma religiosa, possivelmente - e das grandes! Sugiro procurar a Editora Vozes. Sabia que eles estão com estande aqui na Bienal? Vai lá. Leva Jesus com você. E ofereça o seu livro!”, provoquei. “Meu não! Do Mestre!”. Jeremias – creio – não gostou do que eu disse. Aborreceu-se! “O livro já tem título?”. “Sim, tem” - resmungou - vai se chamar ‘Jesus e Eu’.”. “Interessante”, respondi. Jeremias me olhou nos olhos, fez cara azeda, deu meia-volta e sumiu - apressadamente - no meio da multidão. Durante a feira, já no desmonte do último dia, cruzei com um gerente - amigão - funcionário da Editora Vozes. Contei-lhe, detalhadamente, história do livro do Messias e do Jeremias . Ele me olhou - balançou a cabeça - e disse: “Mais um!”

20.12.2021