O lugar existe. Eu o imaginei. Papel de seda, linha e
palitos de palha de coqueiro. E goma, claro. Uma tigela cheia. Filho, não é muito
grude? É que o Chico vai ajudar no quadrado da arraia e ele come mais do que
trabalha! Grude? Na casa dele não tem comida. Acabou tudo. Estão passando fome.
Quem disse isso? A Margarida. Aquela carioca avançadinha que mora na vila?
Menina “safadinha” filha do capeta. Dizem que ela “mastiga” carambola com as
coxas e depois obriga os meninos a comerem o bagaço. Não sei de nada. João: você
gosta do bagaço da carambola? Só como no pé. Juro. Olha lá! E esses dedos
cruzados no bolso? Mania. Quer levar um pão com ovo para o Chico? Não precisa.
O negócio dele é mesmo comer grude. Mãe, eu preciso de uma meia de mulher e um
pano velho. Posso saber para quê? Para peneirar o cerol - não pode ter furo. E
o pano? Fazer um rabo de escama para a arraia. Vê se não chega tarde. E na
volta toma banho. De novo? Sim. Já tomei ontem. Lembra? Lavou as orelhas?
Lavei. E os pés? Também. A “danada” da Margarida não olha suas orelhas? Não. Já
disse: eu como no pé. E o Chico? Ele come o grude. Gosto é gosto.
26.08.2020
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